sexta-feira, 5 de outubro de 2012

BROKEN HEART

Passeio-me inúmeras vezes nesta praia, perdida nos meus sonhos, que vêm e vão, como uma mera brisa que passa, mas que deixa rasto. Um rasto brilhante e reluzente que mostra o caminho para a origem desta dor. Dor que corrói como se de uma ponta de cigarro, que se vai consumindo a si própria, se tratasse. Tão depressa, tão quente, que até queima se lhe tocasse. E tal como se deita fo...
ra a ponta de cigarro já consumida porque não fazer o mesmo com esta dor? O que me impede? O que me trava? O medo de que se deitar fora esta dor fique livre para que outra possa tomar o seu lugar. Então fico presa. Sinto-me presa. Sem me conseguir libertar deste mal maior que matinalmente me persegue. Debato-me mas não tenho forças. É minha sombra. É meu ar que respiro e que me atormenta porque sei que se não respirar morro. E então, vivo com ela. Dia após dia. Noite após noite. Sem ver a luz ao fundo do túnel. Seria tão mais agradável se me dessem certezas de que sobreviveria se sustivesse a minha respiração. Então, nunca mais respirava e passaria assim, o resto da minha vida. Mas, se assim fosse, nunca mais teria o prazer de "cheirar" a vida. Porque a vida tem muitos cheiros e o que me mais importa é o cheiro do mar. Que me inspira nestes momentos de pura obscuridade antropológica. Que me guarda e que me leva para longe, para bem longe.
Pergunto-me se alguma vez ultrapassarei esta obscuridade que me percorre as veias. Por isso fico serena quando, por alguma razão, me mago-o. E a ferida surge naturalmente, tal como a dor surge repentinamente e cria ferida, mas não sangra. Não sangra porque a própria dor já dá de si. E porque apesar de não sangrar ela mantém-se aberta e igualmente dolorosa. Já se fosse ferida que sangrasse dava-me a esperança de que a dor que me percorre as veias saísse por essa ferida, pelos poros da minha pele, tão depressa quanto entrou. E se desvanecesse tal como quando uma ferida cria crosta e sabemos que se continuar assim, não mais sangrará. Mas nunca esquecendo que basta qualquer circunstância exterior que afecte aquela pele, nova mas ainda frágil porque apenas recentemente se formou, para que comece novamente a sangrar. E aí a dor volta, mais forte e dolorosa. Não se curando com um qualquer penso que a cubra fingindo que a cura, porque simplesmente é dor tão abstracta que médico algum a conseguiria compreender para poder prescrever a receita que a suavizaria. Sinto agora um ardor mais acentuado. É o sal da água do mar que ao tocar na ferida a faz arder, como se de uma ponta de cigarro, que se vai consumindo a si própria, se tratasse. Sinto uma frescura ao de leve na minha face. É a brisa que passa e que deixa rasto. Um rasto brilhante e reluzente que mostra o caminho para a origem desta dor. E tal como a origem desta dor que começou aqui, nesta mesma praia, onde me passeio inúmeras vezes, perdida nos meus sonhos, que vêm e vão, também a água do mar que faz arder inicialmente a ferida que toca, a vai lentamente curando. Até criar crosta. Para nunca mais sangrar.

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